A exposição “Um Lugar de Si” traduziu perfeitamente o significado de força da vulnerabilidade. Incomodou. Fez acessar perguntas importantes. Curou. Me colocou frente a frente aos lugares que hoje ocupo e trouxe o questionamento: será que ainda quero ocupar? Me colocou frente a frente aos lugares que ainda não ocupo e trouxe o questionamento: quais eu quero ocupar? A exposição transcende a esfera visual. Os áudios dos relatos dão vida às palavras. A força que vem da coerência do tema com a Verdade da artista é digna de arrepio! Um Lugar de Si, abriu a perspectiva para eu explorar todos os lugares em mim.

A Bia teve a sensibilidade de capturar algo que só se revela a quem observa com atenção, delicadeza e presença: os detalhes que se fazem presentes no momento de quebrar alguns ciclos. Algo que poderia simplesmente seguir o fluxo e passar despercebido, mas que ela fez questão de honrar. Com uma pergunta simples e potente, ela nos retirou do modo automático e nos convidou a pausar, olhar com atenção e ser. E, assim, abriu as portas do caminho mais verdadeiro e seguro que podemos seguir nesta vida: o retorno ao corpo, o reencontro com a alma e a verdadeira volta pra casa.

Em um primeiro momento a exposição me pegou naquele lugar desconfortável de sempre: a comparação. “Porque elas já sabem tão claramente o lugar que ocupam e eu ainda me sinto tão perdida?” Bom, mas a arte tem dessas, coloca a gente no desconforto pra depois nos acalentar, ao ouvir cada depoimento e saber que elas refletiram a partir da pergunta provocada, pensei “bom, talvez se eu parar e refletir, eu também consiga enxergar esse tal lugar de mim” . Então a arte cumpre seu papel mais nobre: ela nos modifica, nos faz ver o que não víamos antes. Um lugar de mim, é construído por mim, não é encontrado lá fora, um lugar de mim é vivido por mim, não existe para que os outros vejam, um lugar de mim é um ponto de partida, não é um ponto de chegada, é onde cabem todas as pessoas que me fizerem bem e pra quem eu possa fazer bem também. Que alegria ser inspirada por essas histórias, atravessada por essa reflexão e por essas belíssimas fotos resultado da construção do lugar de si da (agora) artista.

Na minha percepção, todo artista extraordinário consegue imprimir, de forma coerente, a sua identidade em sua obra. Bia Brito traduz fielmente toda a sua grandiosidade na exposição “Um lugar de si”, na medida em que costura narrativas com o seu olhar e sensibilidade - por intermédio de imagens - nos permitindo adentrar espaços íntimos de mulheres potentes, mas também concedendo gentilmente a elas o lugar de fala, o espaço, a VOZ, para que complementem a narrativa lida pelo espectador. Com essa fusão, é possível acessar camadas mais profundas, possibilitando, assim, nos vermos refletidas - como num espelho - encontrando, consequentemente, um lugar em nós.